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  • domingo, 14 de junho de 2009

    HOMENAGENS AO CENTENÁRIO CHICO XAVIER - UMA NECESSÁRIA REFLEXÃO


    Chico deve estar tomado pela indignação, no além-túmulo, em face das festividades que estão sendo planejadas para homenageá-lo. Há programação para uma monumental celebração pelo seu centenário, em 2010. Em Brasília, será cobrado, por "pessoa", R$ 120,00 (cento e vinte reais), no mínimo, para a realização de um Congresso. Em Pedro Leopoldo, pretendem erigir um hiper complexo, com grandes pavilhões, construir museus, departamentos diversos, fontes luminosas, cristalinas passarelas de acrílico com a mais alta tecnologia em luzes, laser e neon. Tudo isso, com dinheiro da venda de livros, doações e dinheiro público, cobrando-se ingresso das pessoas nos eventos espíritas, infelizmente!... Em Uberaba, além dos monumentos, dos bustos, dos museus, nas praças e avenidas haverá shows, congressos, festivais, lançamentos... festa.
    Chico sempre foi avesso a essas manifestações, e sempre esteve longe dessa idolatria. Dos mais de quatrocentos livros psicografados, todos foram doados, sem quaisquer ônus, para que as editoras e fundações pudessem disseminar a palavra dos mensageiros. Porém, vender livros, atualmente, é um ramo altamente lucrativo, que, infelizmente, tem financiado construções faraônicas, tem custeado viagens e caravanas de doutrinação, e visitas ao exterior, sempre com hospedagens nos mais luxuosos hotéis, é óbvio!!!.
    Em Belo Horizonte, estão construindo, ao lado de uma favela, a "Casa de Chico", uma gigantesca e moderna edificação, um verdadeiro palácio arquitetônico, no que serão gastos milhões e milhões de reais, arrecadados da venda exorbitante das obras doadas, um golpe mortal à doutrina do Consolador!
    Para homenagear Chico Xavier, deveríamos nos empenhar em minorar o sofrimento dos desvalidos. Ao invés de gastarmos essa dinheirama toda com tamanha soberba, deveríamos aplicá-la em hospitais que estivessem necessitando de mais recursos, em asilos, orfanatos, escolas profissionalizantes, e/ou em inúmeras formas de se exercer a caridade.
    A cobrança de taxas para ingresso nos eventos espíritas, sejam eles realizados em qualquer lugar do mundo, é algo absolutamente trágico. Os eventos modestos e produtivos sempre são subestimados e substituídos por congressos, simpósios ou conferências retumbantes, pelo patético prazer de ostentar. Na falta de argumentos que justifiquem o alto preço fixado, são exaltados os títulos e "status" dos ilustres convidados, numa inaceitável elitização da mensagem espírita, que deve ser, por excelência, simples.
    Não desconhecemos que todas e quaisquer promoções têm seu custo, sobretudo financeiro. Por isso, os organizadores desses eventos devem, antecipadamente, envidar todos os esforços, no sentido de estudar a viabilidade de eles serem realizados, sem que haja a necessidade de se cobrar taxas para o ingresso dos interessados. Ora, para suportar despesas, é necessário reduzir custos, obviamente, e, em face disso, exige-se um planejamento minucioso, não somente dos gastos, mas quanto ao programa a ser apresentado, à data que dará início ao evento e à sua periodização, com vistas às legítimas necessidades do Movimento Espírita brasileiro, lembrando que o evento deve primar pela simplicidade, sem desconsiderar a sua qualidade, adequando sua logística de acordo com o essencial, e nada mais que isso.
    Para esse desiderato, importa captar os recursos com boa antecedência, sobretudo, através do rateio espontâneo entre os companheiros interessados na empreitada. Nada impede que realizem promoções, doutrinariamente corretas, para angariar fundos financeiros, com a participação das instituições espíritas bem dirigidas. Contudo, em nome da difusão doutrinária, algumas instituições tangem nos perigosos jogos da vaidade, realizando congressos, cujos elencos reforçam o palco do estrelismo.
    Por oportuno, destacamos aqui o editorial do Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná, de Junho de 2002, que alerta: "Impensável (...) se é que há, o caso daquela Instituição que queira promover eventos doutrinários pagos, visando fazer caixa para sustento de suas atividades gerais. Essa também estará muito distante dos parâmetros efetivamente espíritas."(1) Nesses Congressos pagos, objetivando a divulgação do Espiritismo, seus coordenadores sempre justificam tal cobrança, alegando que têm necessidade de recursos materiais e financeiros, sem os quais não atingiriam seus propósitos , aliás, objetivos muito ao gosto da fina flor social.
    É claro que não podemos nos esquecer de que, se temos liberdade para pensar e agir, desta ou daquela maneira, há mister de nos mantermos fiéis aos ensinos dos Espíritos. A propósito, recorremos a André Luiz, em "Conduta Espírita", que nos recomenda "não angariar donativos em nossas instituições, para não sermos tomados à conta de PAGAMENTOS POR BENEFÍCIOS".(2) (grifamos) É óbvio que os eventos espíritas têm despesas a serem pagas, mas podemos promover a sua materialização pelas inúmeras alternativas de colaboração espontânea dos profitentes na sua execução. Somos a favor de quem possa contribuir para cobrir os custos com alimentação, material gráfico, hospedagem e outras despesas necessárias ao evento. Que fique bem claro o seguinte: quem não tiver condições financeiras para colaborar, que possa, igualmente, participar do evento.
    O que não podemos, e nem devemos fazer, é cobrar por aquilo que oferecemos em nome do Espiritismo. Por isso, recorremos, mais uma vez, a André Luiz, em "Conduta Espírita", onde ele diz: "QUEM SABE SUPORTAR AS PRÓPRIAS RESPONSABILIDADES, DÁ TESTEMUNHO DE FÉ"! (grifamos)
    Recordamos um editorial da revista "O Espírita", de jan/mar-93: "A FÉ COMEÇA NOS LÁBIOS, OBRIGATORIAMENTE PASSA PELO BOLSO, PARA SE INSTALAR NO CORAÇÃO". (3)
    Será que os consagrados líderes e divulgadores espíritas, que percorrem o País, sabem desses festivais de Congressos pagos? Se têm consciência, e nada fazem, são omissos e a omissão é falta grave ante as Leis de Deus. Sendo verdadeira a última hipótese, transparece o resultado natural das confusas lideranças doutrinárias, salvo raras exceções, que a despeito de terem um bom patrimônio teórico, falta-lhes o que sobrava em Chico Xavier: modéstia.
    É por essas e outras que muitos eventos "grandiosos" remetem médiuns, escritores e oradores, em número expressivo, ligados à tarefa de divulgação, a se perderem, "sutilmente", no exibicionismo, no estrelismo e na tosca vaidade, quando deveriam experimentar a humildade e o esquecimento de si mesmos , para ensinarem, com segurança, a todos os que neles buscam lições.
    Chico deve estar tomado pela indignação, no além-túmulo, e com razão.


    Jorge Hessen
    E-Mail: jorgehessen@gmail.com
    Site: http://jorgehessen.net
    FONTES:
    (1) Editorial do Jornal Mundo Espírita, da Federação Espírita do Paraná, publicado em Junho de 2002
    (2) Vieira ,Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 2001
    (3) Editorial da revista "O Espírita" de Brasília edição de jan/mar-93

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